por Marcelo Sollero, diretor de produção

Para que se perca o estigma de que ler é algo chato, “Capitu, olhos de mar” se propõe a encenar a adaptação de uma obra clássica, acreditando que, assim, a partir da desmistificação do clássico como algo inacessível, novas portas para o mundo das letras poderão ser abertas. Mais do que isso, há uma vontade de falar diretamente ao público que está se formando enquanto leitor, espectador e indivíduo: vocês, jovens.

Embora alguns vejam a realidade do romance clássico como algo ultrapassado, devido à distância temporal que o separa de nós, muita coisa permaneceu igual através destes séculos, não por estagnação, mas por tratar da essência do ser humano. “Dom Casmurro” é assim, e traz como foco da história o amor entre os jovens Bentinho e Capitu, com 15 e 14 anos, respectivamente. O frescor da relação entre eles e as situações evocadas por Machado de Assis fazem com que esta fábula seja de fácil reconhecimento pelos adolescentes de hoje. O que talvez ainda assuste seja a refinada linguagem do romancista, típica do século XIX. O espetáculo “Capitu, olhos de mar” busca retomar esse vigor juvenil do romance com uma linguagem mais próxima do nosso cotidiano, sem baratear a escrita machadiana, mas com uma construção cênica que privilegia o tempo todo o caráter lúdico da obra.

Formar leitores e espectadores é formar pensadores, pessoas conscientes de si e de sua ação sobre o mundo, que, por sua vez, podem se tornar novos formadores. 

Queremos falar de igual para igual com vocês, nosso público, fomentando o gosto pela leitura e pelo teatro. Esperamos que este espetáculo os toque de alguma forma, emocionando, fazendo rir ou simplesmente estimulando a pensar. Quem sabe, com isso, poderemos criar novos leitores, novos espectadores e, por que não?, novos artistas. O convite está feito a quem quiser nos acompanhar nesta jornada. sua formação em direito (que lhe proporciona, imagina-se, uma capacidade incomum de defesa do caso) são pontos levantados que põem em cheque a acusação de traição que ele lança contra Capitu. E é justamente o ponto de vista questionável desse relato que acaba com o amor de uma vida inteira. Bentinho tenta convencer o leitor/espectador através de sua manipulação narrativa dos fatos, da mesma forma que convenceu a si próprio de algo nunca comprovado.

Sua narração é uma prova de amor à literatura e, posto no palco, ele se transforma em um contador de histórias, remetendo às origens da literatura, em sua tradição oral, quando era transmitida pelos rapsodos gregos. A sedução pela palavra é o norte do nosso narrador, a fé no poder da narrativa é o que o leva adiante em seu relato. Convidamos vocês a acompanhá-lo e a ouvir atentamente a história que ele tem para lhes contar. Que a imaginação seja companheira de todos nós nesta experiência, assim como foi para Bentinho.